Se eu fosse histérico, seria caso para dizer "j'accuse"

Já agora, uma vez que o tema é recorrentemente levantado nos blogues do "Eixo do Mal", aproveito para esclarecer algumas "falsidades" em que gente manifestamente "séria" tem sido pródiga. Pior: gente que se permite retirar conclusões de factos que não conhece, o que é sem dúvida original. Nunca abordei este problema em público, mas digo agora três coisas.

Escrevi vários artigos no diário económico atacando a "claustrofobia democrática" (podem ler, por exemplo, aquilo que escrevi, por exemplo, no próprio diário económico, antes das eleições, quando a Manuela Moura Guedes saiu da TVI). Comecei a escrever em 2008 no diário económico (a convite do anterior director, André Macedo), acumulando com um diário nacional (primeiro o diário de notícias, depois o i). Nunca avisei, nem precisava de avisar, nenhuma destas mudanças e posso dizer que até fui expressamente autorizado a fazer essa acumulação por um dos sub-directores do próprio diário económico. Ao contrário da informação que puseram a circular, não precisava de avisar o diário económico de que iria começar a escrever no Público, se isso nunca me foi exigido na anterior mudança do diário de notícias para o i, nem faria sentido que fosse exigido (a não ser talvez por cortesia) a um colunista meramente quinzenal que nunca contratou qualquer exclusividade. Aliás, se tivesse sido esse o motivo de terem "descontinuado" (no belo eufemismo da Fernanda Câncio) a minha coluna, o normal seria que me tivessem informado disso mesmo, que tivesse sido essa a explicação. Não o fizeram e nunca responderam ao meu email a pedir explicações.

Outro aspecto que aproveito para ressaltar é que me custa um bocado ter de lembrar a jornalistas alguns princípios básicos: a separação entre os grupos económicos e os órgãos de comunicação social e a autonomia dos seus colaboradores até vem na Constituição. Eu sei que esse princípio está a ser brutalmente desrespeitado por esse grande regime de liberdade que é o socratismo, mas não consigo ver como é que gente pretensamente de esquerda e que até trabalha na comunicação social, não lhe dá importância. Se me explicarem onde é que eu critiquei o diário económico, eu agradecia. Na verdade nunca critiquei nem o diário económico, nem nenhum dos seus directores ou jornalistas. Quanto à Ongoing, critiquei de facto no meu texto de 12 de Novembro no Público: parece que saíram umas notícias sobre escutas no início de Novembro, alguns dias antes de eu ter escrito o meu primeiro artigo, que começaram a tornar patente muita coisa. Aliás, com tudo aquilo que começamos a saber, acho que escrevi pouco.

Num daqueles gestos de portentosa honestidade a que nos tem habituado, creio que a Fernanda Câncio relaciona a minha saída com um post que escrevi aqui sobre a maravilhosa entrevista que o director do diário económico fez ao Figo no Verão do ano passado. Esse post não teve nada a ver como que se passou. Foi escrito posteriormente ao meu afastamento do diário económico, escrito no próprio dia em que o Correio da Manhã publicou uma notícia sobre a participação do Figo na pré-campanha eleitoral do PS. A relação entre uma coisa e outra é mais uma das falsidades que a Fernanda Câncio deu como certas. Cheguei a pensar na nossa troca de palavras numa caixa de comentários que o fez de boa-fé. Hoje, estou mais céptico.

Por razões óbvias, nunca me fiz de herói do que quer que seja. Nunca me perseguiram e nunca me condicionaram. Só não gostaram de uma coisa que escrevi e atiraram-me para rua. Precisamente por isso, quem sabia muito pouco sobre as circunstâncias em que a minha saída do diário económico se processou, mas ainda assim comentou o assunto com ligeireza, alimentando o que ouviram ou que lhe contaram, andou a pregar uma filha-da-putice e a propagar uma mentira. Deixo uma sugestão: não se abandalhem, nem abandalhem a inteligência dos outros. Até ao fim, mantenham a calma. A Fernanda Câncio está em denial. Vê o mundozinho dela em que podia e pôde fazer e desfazer personalidades pública a ruir, com estrondo e lodo. Arriscou a reputação na cobertura de um primeiro-ministro sinistro e desespera com a desonra e ostracismo que se aproxima. Infelizmente já ninguém a pode salvar.